Por: Paulo Loiola e Observatório das Redes
A disseminação de notícias falsas tem sido um desafio crescente nos tempos modernos, com a capacidade das redes sociais de amplificar informações duvidosas e enganosas. Um exemplo recente dessa tendência ocorreu com a notícia falsa de que o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, teria atuado para liberar mais de um bilhão de dólares à Argentina, alegadamente com o objetivo de influenciar as eleições naquele país e barrar a candidatura de Javier Milei. Essa notícia, inicialmente publicada pelo jornal Estado de S.Paulo em 3 de outubro de 2023, foi posteriormente desmentida oficialmente pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Neste artigo, exploraremos a repercussão dessa fake news nas redes sociais, analisando como ela se espalhou e quem estava envolvido na sua disseminação. Vamos dividir essa análise em três seções: a análise dos dados no Facebook, a análise dos dados no Instagram e, por fim, tirar algumas conclusões importantes.
Facebook: Um Foco de Interações na Desinformação
No Facebook, observamos um grande volume de publicações relacionadas à notícia falsa. Foram 705 publicações de 464 páginas diferentes, resultando em um total impressionante de 233.120 interações.
Tabela 1. Dados Gerais
Publicações | 705 |
Total de páginas que postaram | 464 |
Interações | 233.120 |
Analisando os números por dia, notamos um aumento significativo no dia 4 de outubro, tanto em termos de publicações quanto de interações. O dia 3 teve 2.126 interações em 44 publicações, o dia 4 teve 193.339 interações em 431 publicações e o dia 5 registrou 37.655 interações em 230 publicações.
Tabela 2. Total de interações e postagens por dia
Dia | Total de interações | Total de posts |
03/10/2023 | 2126 | 44 |
04/10/2023 | 193339 | 431 |
05/10/2023 | 37655 | 230 |
As interações mais altas no Facebook vieram de páginas de direita que promoveram a fake news, como “Pro Fake Direita” e “Mais Sudeste Notícias.” Entre as postagens mais interativas, encontramos um vídeo do Dr. Luan Amâncio comentando a reportagem do Estadão, uma postagem da Mais Sudeste Notícias discutindo como a operação teria ocorrido, e uma publicação de Carla Zambelli que incluía uma imagem de Lula ao lado do candidato argentino Sergio Massa.
Tabela 3. Top 6 postagens com maior número de interações
Posição | Grupo | Perfil | Total de interações | Link |
Pro Fake | Direita | Dr. Luan Amâncio | 28.910 | https://www.facebook.co m/100078601998973/post s/312756684687729 |
Pro Fake | Direita | Mais Sudeste Notícias | 12.276 | https://www.facebook.co m/100078817929781/post s/314822827821646 |
Pro Fake | Direita | Eu Renato Taroco | 14.275 | https://www.facebook.co m/100050509238738/post s/886906219669678 |
Pro Fake | Direita | Carla Zambelli | 14.058 | https://www.facebook.co m/100043932348669/post s/867630174711386 |
Desmentiu | Esquerda | Samuel Borelli | 11.230 | https://www.facebook.co m/100067156560957/post s/638978555017358 |
Desmentiu | Esquerda | Gleisi Hoffmann | 7.720 | https://www.facebook.co m/100044360472979/post s/905205647634776 |
As quatro primeiras posições do ranking de interações no Facebook foram ocupadas por páginas de direita que apoiavam a narrativa falsa, enquanto as duas últimas posições eram ocupadas por páginas de esquerda que buscavam desmentir as informações errôneas.
Instagram: Uma Forte Presença de Páginas de Direita na Desinformação
No Instagram, também observamos um grande número de publicações relacionadas à fake news, com 394 postagens de 279 páginas diferentes e um total de 1.015.666 interações. Assim como no Facebook, o dia 4 de outubro foi o mais ativo, com um grande número de publicações e interações.
Tabela 4. Visão geral dos dados
Publicações | 394 |
Total de páginas que postaram | 279 |
Interações | 1.015,666 |
Tabela 5. Total de interações e postagens por dia
Dia | Total de interações | Total de posts |
03/10/2023 | 29.967 | 18 |
04/10/2023 | 843.199 | 284 |
05/10/2023 | 142.500 | 92 |
As páginas de direita dominaram o ranking de interações no Instagram, com publicações que amplificavam a narrativa falsa. Sérgio Moro, Javier Milei, Carla Zambelli e a página “CONEXÃO POLÍTICA” estavam entre as mais ativas na disseminação da fake news.
Tabela 6. Top 5 postagens com maior número de interações
Posição | Grupo | Perfil | Total de Interações | Link |
Pro Fake | Direita | Sergio Moro | 48.838 | https://www.instagram.co m/p/Cx-whaxudt5/ |
Pro Fake | Direita | Javier Milei | 48.444 | https://www.instagram.co m/p/Cx9WpP6AbnF/ |
Pro Fake | Direita | Carla Zambelli 22 | 38.459 | https://www.instagram.co m/p/Cx-agBlBuPT/ |
Pro Fake | Direita | CONEXÃO POLÍTICA | 32.257 | https://www.instagram.co m/p/Cx-0SgTrKRd/ |
Pro Fake | Direita | CONEXÃO POLÍTICA | 26.173 | https://www.instagram.co m/p/Cx-i4a9rpiB/ |
As postagens mais interativas no Instagram incluíam imagens e manchetes que reforçavam a falsa narrativa, com críticas a Lula e ao candidato argentino Javier Milei.
Conclusões e Reflexões
A análise das redes sociais em relação a essa fake news revela a polarização política e a forte presença de páginas de direita na disseminação de informações errôneas. Essas páginas utilizaram estratégias como compartilhamento de manchetes fora de contexto, imagens manipuladas e informações claramente falsas para amplificar a narrativa da fake news.
Por outro lado, as páginas de esquerda parecem ter tido dificuldade em combater a disseminação da desinformação, principalmente devido à postura defensiva e aos limites éticos autoimpostos ao responder às acusações.
É importante destacar que, neste caso específico, a fake news foi gerada por um veículo de comunicação tradicional e, em seguida, amplificada e disseminada pelas redes de extrema direita. Isso demonstra a sinergia entre os meios de comunicação tradicionais e as redes sociais, criando uma preocupação real com a distorção dos fatos e o impacto no debate público.
Em um mundo onde as redes sociais desempenham um papel cada vez mais significativo na formação da opinião pública, é fundamental que os usuários estejam cientes da disseminação de fake news e adotem uma postura crítica ao consumir informações online. Além disso, é responsabilidade das plataformas de mídia social e da sociedade em geral combater a desinformação e promover a divulgação de notícias precisas e verificadas.
Em última análise, o combate à disseminação de fake news requer ação coletiva, envolvendo jornalistas, plataformas de mídia social, políticos e o público em geral. Somente através de esforços conjuntos podemos garantir que a desinformação não prejudique nossa sociedade e nossa democracia.