Por Paulo Loiola
Nos últimos dias, a imprensa noticiou o choro de Bolsonaro, após sua esposa, Michelle Bolsonaro, tomar posse como presidente do PL Mulher, em Brasília. Por outro lado, o atual presidente, Lula, também chorou ao relembrar os momentos que passou encarcerado, na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Mas o que o choro dos dois tem em comum? Em ambos os casos, são momentos em que os dois líderes políticos viveram ou relembram de fatos marcantes das suas carreiras.
Porém, o choro em si vai muito além de lembranças dolorosas, ele vem como uma necessidade de sensibilização da figura pública, de líderes de dois complexos mundos políticos. Por um lado, Lula é visto como uma pessoa “dura” pelos correligionários de Bolsonaro que, por sua vez, é tido como um homem sem emoções. Ou com elas à flor da pele demais.
No entanto, o choro de Lula e Bolsonaro gera uma identificação e uma atenção maior da imprensa, gerando uma certa comoção social. Quando essa emoção aflora de forma mais crítica, por um lado da injustiça vivida por Lula, e por outro, da distância entre Bolsonaro e Michelle, gera um engajamento maior, tanto nas mídias sociais, quanto na imprensa em geral. Indiferente do tipo de reação pública, por solidariedade geral ou por crítica – questionando a veracidade do choro, a verdade é que as lágrimas vão gerar algum tipo de engajamento maior para ambos os lados.
Nesse ponto entramos na visão de marketing político das legendas e dos próprios políticos envolvidos. O choro comove e, bem utilizado dentro de uma estratégia, pode ser utilizado para a conquista do eleitor. Cada um da sua forma, chamou a atenção do eleitor. E outro fator que chama a atenção nos dois choros é que existe uma diferença entre o choro de dois homens públicos e de uma mulher chorando.
O Brasil é um país machista e, de certa forma, o choro de uma mulher é visto como algo frágil ou despreparo para exercer determinada função que “não exige emoção”. Por outro lado, o choro do homem é percebido como um nível de sensibilização masculina, que tem se tornado uma demanda social muito recorrente.
Contudo, no ponto de vista do marketing político, as técnicas nem sempre funcionam para os dois lados. Talvez, o que é um agregador para um campo político, pode ser um espaço de dúvida ou mesmo sinal de fraqueza por outro. Nos dois casos, tanto Lula quanto Bolsonaro, existe uma espécie de “inimigo comum”. Lula pela injustiça sofrida e Michelle tomando posse e o marido longe num momento tão importante para os dois.
Lula gera empatia, lembra dos casos de D. Marisa, durante a doença, e do neto que faleceu e não pôde acompanhar o velório e sepultamento por estar encarcerado na PF. Já Bolsonaro utiliza a emoção de quem está se recompondo, fora do país, sofrendo uma carga de críticas, inclusive por alguns apoiadores, e a grande maioria dizendo que ele está foragido.
A utilização do medo também é um fator que gera engajamento e a direita brasileira tem utilizado de forma contundente e frequente com o medo de perda da liberdade, medo da volta da inflação, da corrupção, etc. Por outro lado, a esquerda usa o medo do fim da democracia e consequente volta dos regimes autoritários, o medo da falta de diálogos com os sistemas públicos.
São medos que funcionam para atingir o nicho de interesse e até a opinião pública, e ganhar atenção das mídias e da imprensa. O fato é que são momentos parecidos para correntes políticas distintas e que o marketing político de ambos está trabalhando o tempo todo, visando outro momento político, mais futurista, utilizando o que o presente preconiza.
Paulo Loiola é estrategista político, Mestre em Gestão Pública pela FGV/EBAPE e sócio da Baselab.