Atualizado: 3 de jun. de 2021
Por Nathália Batista
Os polos de poder da nossa sociedade são estruturados a partir dos valores, ética e cultura das classes dominantes, que atuam para manter essa estrutura que se retroalimenta. Os motivos pelos quais os integrantes dessas classes são escolhidos por aquela parcela da população que não encontra identificação nesses perfis, objetivamente, são os mais variados. Dentre eles, podemos considerar também que há uma lacuna de candidaturas competitivas e bem estruturadas dentro das classes menos abastadas.
Não me debruçarei aqui sobre os debates que permeiam o poder simbólico ou o poder hegemônico, temas muito pertinentes para se entender as dinâmicas de identificação ou falsa identificação entre as classes dominantes e não dominantes. Tentarei analisar os desafios que candidatos que vivem em periferias encontram em suas campanhas eleitorais.
Começando pelo imaginário que temos da classe política. Temos a ideia de que políticos são pessoas “estudadas”, que entendem do assunto e que se traduzem, na realidade, em homens brancos, heterossexuais e classe média. A política institucional, então, se torna mais um polo de poder dominado pelo mesmo perfil que domina todos os outros.
A primeira barreira a ser vencida é a da ideia de que cargos eletivos estão restritos a uma suposta superioridade desses perfis, a partir daí se debate o papel do político, que precisa ter capacidade de articulação, de diálogo e compromisso com o bem-estar coletivo, dentre outros que ficam a critério do próprio eleitor definir. A participação política pode ser educativa.
Devemos ter em mente que existem candidaturas dentro das periferias que não necessariamente representam pautas progressistas ou de interesse das comunidades, mas que compartilham das mesmas dificuldades, o que pode ilustrar ainda melhor as limitações que um representante de comunidade encontra ao se propor a levar suas perspectivas para as casas legislativas.
Sabemos que campanhas eleitorais podem ser caras ou caras o suficiente para limitar o alcance de determinados candidatos e que o fator dinheiro também está atrelado aos candidatos oriundos da classe média, favorecendo-os. E nesse ponto, temos uma aliada de enorme relevância, a campanha virtual, que além de mais acessível em termos de envolvimento e resposta dos eleitores, é também uma ferramenta crucial para reduzir a desvantagem competitiva dos candidatos de comunidade – e não só quando o tema é dinheiro. O dinheiro é um fator importante também quando se considera outros acessos que o rodeiam, como os atores envolvidos nessa dinâmica que podem ser peças de enorme relevância numa campanha eleitoral por conta de suas redes de relacionamento.
O que nos leva ao financiamento de campanha e a outras formas de construção dessa campanha, como o apoio de voluntários e amigos, que são de fundamental importância não só no desempenho de funções, como com a contribuição no aumento do compromisso e da responsabilidade do candidato com a própria democracia.
De todo modo, nem tudo pode ser superado apenas com a internet, afinal placas e santinhos distribuídos pelas vias de maior acesso ainda são peças importantes em uma campanha eleitoral, além do pagamento de pessoal qualificado.
Um outro aspecto, que põe em risco essas candidaturas, são suas próprias comunidades quando estas se apresentam como currais eleitorais de candidatos apoiados pelo crime organizado, sendo obrigadas a se retirarem da disputa ou de fazerem campanha no local de maior potencial de votos, seu local de nascimento ou criação.
O levantamento dessas questões passa, inevitavelmente, pela racialização do debate quando nos deparamos com a subpresença de eleitos negros.
O que propus aqui não foi trazer inúmeras ferramentas que pudessem ajudar a contornar essas barreiras, mas trazer reflexões sobre as dificuldades que esperam candidatos periféricos e seus estrategistas de campanha.
Existem outras, mais ou menos específicas, é claro. Devemos levantar esse debate e traçar estratégias coletivamente se quisermos casas legislativas mais plurais e representativas.
Nathália Batista é cientista política e faz parte do Nossa Base, um projeto BaseLab para capacitação de profissionais que atuam em campanhas eleitorais. Ela está disponível para trabalhar em campanhas em Itaguaí (RJ) e na capital fluminense.
Sobre Nossa Base
É a primeira rede brasileira de profissionais eleitorais progressistas espalhados pelo Brasil.