Atualizado: 3 de jun. de 2021
Por Beatriz Araujo
A diversidade na representação política é um assunto bastante comentado, mas ainda há pouca inserção real. As famosas candidaturas laranjas/não-viáveis, aquelas que são escaladas só para constar e cumprir tabela, ainda são muito mais numerosas.
Desde a oficialização de iniciativas para garantir a participação feminina (cis e trans) e negra na política, não deixo de querer levantar algumas reflexões para possibilitar que todas as pessoas que pretendem trabalhar com este perfil ou se candidatar num futuro próximo, pela primeira vez, se preparem estrategicamente.
A participação feminina mesmo que crescente ainda é insipiente quando se fala em confecção de campanhas partidárias e institucionais chamando-as para ação.
Pode parecer meio fora de foco falar das eleições passadas, tendo as próximas num futuro tão próximo batendo à nossa porta, mas em dezembro de 2019, o TSE fez um vídeo para incentivar a participação de mulheres, mostrando projetos de lei com autoria de mulheres tendo como objetivo que elas se mobilizassem e se candidatassem nas eleições – no caso a mais próxima era a municipal de 2020. Quando tive ciência desta campanha estranhei a baixa divulgação, inclusive para cumprir com o objetivo que era permitir que mais mulheres se candidatassem, o que seria necessário estarem filiadas ao partido no mínimo 6 meses antes das eleições.
A pandemia da Covid-19 pode ter atropelado isso, mas não é totalmente descartável a possibilidade de má fé, pois nos estudos políticos de representatividade e representação feminina é construída a partir de barreiras que elas têm que superar que vão desde: a falta de incentivo de seu círculo imediato até sabotagem intrapartidária com falta ou erro proposital nos documentos.
O que nos leva para refletir no que diz respeito ao aumento das candidaturas negras femininas, seguindo a partir desta provocação:
Se para cumprir com a obrigatoriedade de candidaturas femininas, os partidos não estariam usando mulheres negras como contenção de dano, uma vez que são obrigados a colocar essas candidaturas ao mesmo tempo sendo percebido como uma pauta dos movimentos sociais.
Apesar de bem antiga no contexto brasileiro, voltou a superfície com os protestos dos movimentos negros ao redor do mundo – logo, com a presença destas mulheres negras na política, estariam elas tendo mais espaço como estratégia controversa intrapartidária ou um movimento sincero de mais diversidade interna e inclusiva? Fora as manobras que podem vir a ser feitas. As denúncias mais comuns envolvem sabotagem nos próprios partidos e de mulheres abandonando os cargos após eleitas para que homens menos votados ou vices assumissem.
Para finalizar, vale ressaltar o contexto que essas mudanças acontecem, uma vez que nos permite entender os espaços de ação que teremos durante as campanhas e as agendas que terão maior adesão popular para garantir o voto nas urnas como também repensar a divisão de recursos (não necessariamente financeiros), uma vez que estas mesmas mulheres estariam em algum momento ocupando cargos de poder dentro do partido e isso não é pouco, tornando essas mudanças mais palpáveis, mas claro, sem perder de vista a preocupação com os perfis e valores destas mulheres.
Beatriz Araujo é cientista política, mora no Rio de Janeiro e atua como consultora mentorada da BaseLab.
Sobre Nossa Base
É a primeira rede brasileira de profissionais eleitorais progressistas espalhados pelo Brasil.