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Anteriormente, abordei algumas ferramentas e métodos de Bolsonaro nas plataformas digitais. Cortina de fumaça, firehosing e apito de cachorro são algumas delas (e você pode ver o artigo completo aqui).
A Eliana Loureiro, que é professora e pesquisadora na área de comunicação e política, chamou a atenção para outras estratégias que também são comuns nas disputas narrativas: “Astroturfing” e “doxxing”.
As nomenclaturas podem, em um primeiro momento, parecer difíceis, mas o modus operandi delas já é familiar de todos nós e, então, fica muito fácil de entender. Abordo a seguir e, ah, sigam a Eliana.
Astroturfing
O nome se refere a uma marca de grama sintética e serve para expressar uma lista de ações na internet que têm o objetivo de engrandecer movimentos mirrados. Em suma, é dar um aspecto de capilaridade para movimentos populares ou políticos que, por si só, não possuem força alguma. Em “A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, a jornalista Patrícia Campos Mello considera que esse método costuma ser formado por robôs, sites, entidades e pessoas sem relação direta com uma campanha política. O método foi observado anteriormente por pesquisadores na Índia e Indonésia, com um conteúdo sempre polarizador e agressivo. Lembra muito os “pedidos populares” em prol de uma “intervenção” (leia-se “golpe”) das Forças Armadas no Supremo, não é?
Doxxing
O nome é uma corruptela de Documents (ou simplesmente “dox”, em inglês) e nada mais é que uma estratégia de intimidação online via assassinato de reputação. Usualmente, é feita expondo informações privadas de inimigos políticos ou críticos à rede bolsonarista. A motivação também pode ser simplesmente desviar a atenção de uma pauta negativa ao governo e que esteja em voga no noticiário. Curiosamente, é que muitos sites dedicados às fake news e contas bolsonaristas fizeram contra a Patrícia Campos Mello quando ela denunciou, através de reportagens, um esquema de envio ilegal de mensagens pró-Bolsonaro na campanha de 2018.
Há ainda muitos outros termos que estão sendo usados para mapear a atuação da extrema-direita ao redor do mundo. Essa reportagem da Folha de S.Paulo fala, ainda, sobre Sockpuppet (conta falsa criada em ambientes digitais para ações mal vistas ou ilegais), Butterfly attack (ou false flag, que é a infiltração virtual em grupos rivais para causar discórdia ou mudar pautas – um conceito bem parecido com o entrismo político) e Trading up the chain (informações pouco fundamentadas, mas que entram no debate e são comentadas por usuários mais confiáveis para que, pouco tempo depois, apenas se mencione as fontes sérias e se apague a origem da informação).
Em um momento em que os fatos são moldáveis, é importante conhecer e identificar as técnicas de nossos rivais no campo político. A atuação deles vai muito além de grupos de WhatsApp e trolls do Twitter. Curioso notar que todas têm uma coisa em comum: são baixas e calcadas na mentira.
Entretanto, outro aspecto dessas técnicas que venho ressaltando, até de forma elogiosa, é a capacidade de organização da extrema-direita, além do intercâmbio de técnicas. Espero que os progressistas consigam se (re) organizar. Aprender sobre as técnicas inimigas são essenciais nesse processo.