Por Henrique Cançado
Existe uma grande suspeita de que o dinheiro seja a variável mais determinante na corrida eleitoral. No senso comum, essa suspeita também toma as conversas e observações, quem que trabalha com campanha e nunca ouviu “deve estar ganhando um dinheirão para fazer campanha pra fulano”? A ideia de que na política tem dinheiro também invade o imaginário popular.
Bom, o ponto é que quando se olham os dados recentes no Brasil, a constatação é simplista e trivial: gastar dinheiro está associado com as chances de vitória de um candidato. Uma pesquisa feita em 2012, encontrou que entre as despesas dos candidatos a deputado federal entre 2002 e 2010, os eleitos usaram 12 vezes mais recursos, em média. Na minha pesquisa de fim de curso em 2018, constatei que os vereadores eleitos de BH no ano de 2016 gastaram 9 vezes mais que os não-eleitos.
A pergunta que não quer calar para quem trabalha com projetos de candidaturas, mandatos e coordenando campanhas é se dinheiro importa tanto assim, como fazer um bom projeto sem recurso?
Alguns fatores devem pesar para “compensar” o fator financeiro, frente a grandes máquinas partidárias que recebem quantias financeiras altas. O primeiro deles deve ser sem dúvida nenhuma o PLANEJAMENTO. Campanhas que começam a se organizar há pelo menos um ano antes da eleição, tendem a potencializar outros recursos que podem criar condições menos desiguais com quem tem dinheiro, como por exemplo, a construção de uma base sólida de apoiadores.
E isso nos leva ao segundo aspecto que é a FORMAÇÃO DE UMA BOA EQUIPE, o que tem muito mais a ver com qualidade do que quantidade de pessoas. Não são apoiadores, são pessoas que vão dispor do seu tempo e energia de trabalho com o propósito ideológico e eleitoral que une o grupo. Por isso, os objetivos coletivos devem estar explícitos para cada um dos integrantes do projeto, assim como os objetivos individuais, qual o real motivo que leva cada um a se interessar pelo projeto.
É necessário também a definição do plano eleitoral: qual cargo disputar; qual partido escolher; quais projeções de voto; imagem e persona; como divulgar suas ideias políticas, mapear os grupos (na região da eleição) mais próximos da ideologia apresentada, lista de contatos das pessoas envolvidas (para aumentar o alcance e divulgação do projeto). Enfim isso tudo vai compor a ESTRATÉGIA que deve estar dividida em etapas temporais e colocar metas de alcance e projeção em cada uma delas, como pré-projeto, projeto, pré-campanha e campanha. Devem constar na estratégia um CRONOGRAMA e a criação de MÍDIAS SOCIAIS.
Por fim, cabe uma atualização e estudo constante sobre projetos exitosos. O que fazem as campanhas baratas que vencem, o que elas fazem que dá certo? Todos esses fatores mencionados são parte de uma receita (que está em constante mudança) para fazer bons projetos eleitorais e com uma boa chance de vitória.
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, bolsista de apoio técnico na pesquisa do CNPQ “Políticas públicas para melhoria do Ensino Médio: Socialização científica, tradução e transferência de resultados”, coordenada pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente – FAE/UFMG, pela orientação da professora Dalila Andrade. Mestrando em Políticas Públicas de Educação no PPGFAE/UFMG.
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