Atualizado: 14 de ago. de 2020
Por Pedro Henrique França
A essa altura, “storytelling” não é um conceito novo para nenhum profissional de comunicação, em especial para os que lidam com política. Então em vez de tentar debater o que é, acho legal trazer para você alguns insights sobre como construir um bom storytelling com foco eleitoral.
Confira abaixo!
1 – Quanto mais formatos diferentes, melhor
Façam o exercício de escrever e gravar a história de vida do candidato da forma mais espontânea e menos enviesada possível. No princípio, tentem não adaptar o discurso para público nenhum, apenas tenham absoluto domínio dos principais pontos da narrativa. Depois, convertam essa história central nos formatos mais diferenciados que vocês conseguirem imaginar: áudio de WhatsApp, roteiro de filme, memes e por aí vai.
Esse exercício é importante para garantir que vocês vão usar de forma mais completa as redes sociais, muita gente vai preferir ouvir sua história em um áudio de 1 minuto, outras vão preferir ver um vídeo de 3 minutos. Algumas vão querer ver memes em uma linha do tempo. Você precisa saber contar a história sem perder os pontos principais dela. Lembrando que alguma curiosidade, como a profissão da sua mãe, por exemplo, pode virar uma super história.
2 – Storytelling é, acima de tudo, sobre votos
A história mais bonita do mundo não vai te ajudar se você não der motivos para as pessoas decidirem votar no seu candidato. Às vezes são motivos subjetivos, que esbarram em detalhes da sua história, que dão aquele incentivo final para decidir o voto: o time de futebol do candidato, uma escola em que o candidato tenha estudado, um caso específico em que ele solucionou um problema ou quem sabe um cachorrinho fofo por quem o candidato é apaixonado. Construir o storytelling é o momento de identificar quais são os detalhes que podem ser promissores e que vale a pena explorar durante a comunicação.
Por isso é importante associar pontos do storytelling ao que você imagina que serão seus argumentos de campanha: vocês querem desburocratizar o município? Associe um fato da narrativa a como a burocracia atrapalha a vida das pessoas. Vocês querem representar um segmento específico da sociedade? Mostre na sua narrativa como você conhece o problema dessas pessoas e sabe como resolvê-los. Vocês querem falar de políticas afirmativas? Mostre em que ponto da sua narrativa você sentiu na pele como é ser excluído(a) das políticas públicas. Querem mostrar que seu candidato é o mais afetivo e simpático entre todos? Use um cachorro. Sério, todo mundo adora cachorros.
3 – Você s2 A cidade: relação de amor e… um pouquinho menos de amor
Traga para o seu storytelling a sua relação com a cidade, as coisas que ela fez por você, afague a auto-estima dos seus conterrâneos munícipes. Só não faz muito sentido você insistir numa impressão de que está tudo às mil maravilhas. Afinal de contas, se tudo está perfeito do jeito que tá, ninguém vai ter um motivo pra votar em você. Portanto, esteja criticado para apontar de forma clara os problemas da cidade.
Entretanto, tenha atenção às críticas que você faz. Ser oposição não é tão simples em época de eleição, independente do quanto você odeie o grupo político atualmente no comando. É tudo muito fácil quando a aprovação do prefeito atual é baixa: use argumentos enfáticos, surfe na impopularidade dele. Mostre a relação do seu candidato com o lado ruim da cidade, como ele enfrenta problemas, como a cidade seria melhor se o seu grupo político assumisse a administração.
Mas caso você seja de oposição e o prefeito seja bem avaliado, ou caso você esteja no grupo político do prefeito, use pontos do storytelling que incentivem uma oposição construtiva. Reconheça acertos, mas abuse de construções adversativas como “não adianta fazer X sem Y”, “A é bom, mas com B ficaria melhor ainda”. Ficar de olho na aprovação do grupo político atual é importante, porque a máquina pública compra militantes a favor do status quo – e isso pode ser uma pedra no sapato da sua comunicação;
4 – A cada 4 anos um “Ruy Barbosa vs. Marechal Hermes” diferente
O tom de voz do storytelling também vale para o quão erudito ou popular você precisa ser. Lembre-se: alguns segmentos elegem o Collor. Outros elegem o Lula.
Use o histórico eleitoral ao seu favor, e descubra se a tendência do seu segmento é confiar no metalúrgico ou no empresário. É claro que a grande massa trabalhadora pode simpatizar mais com o humilde, mas formadores de opinião e chefes de família podem confiar mais em quem mostra mais traquejo e preparo.
Nenhum problema em flutuar nos dois universos – normalmente esse é o ideal. Mas é importante você entender a hora certa de apertar esse gatilho, o que vai ficando mais difícil conforme as agendas de campanha se apertam em direção ao dia da eleição.
5 – Se tudo estiver dando certo, seus adversários te odeiam. Cuidado com isso
Transforme os pontos fracos do seu storytelling em pontos fortes, antes que seus adversários usem isso contra você. Admitir erros passados é muito, muito importante em uma eleição. Principalmente se for majoritária. Mas lembre-se sempre que seus acertos devem ter o verdadeiro crédito: eles devem ter um impacto positivo maior do que o impacto negativo do seu ponto fraco.
É uma questão de narrativa: identifique o lado ruim, solucione esse problema e transforme essa solução em um argumento de campanha.
Quer um exemplo? Eu darei três logo abaixo:
– Foi ligado a um grupo político que agora é impopular? Narrativa de redenção. Eu era X, e conheço X por dentro. Agora que eu sou Y, posso lutar contra isso.
– Nasceu em outra cidade e está na sua atual há pouco tempo? Narrativa de trabalhar pelo potencial. Eu não nasci em X por obrigação, eu me estabeleci em X por escolha.
– Pouco currículo profissional para mostrar? Narrativa da política por vocação. Eu poderia ter sido da profissão X ou Y, mas estou na política porque eu acredito que tenho o que a cidade precisa para ter um legislativo de qualidade.
Pedro Henrique França faz parte do Nossa Base, um projeto BaseLab para capacitação de profissionais que atuam em campanhas eleitorais, e está apto a atender clientes em todo o Brasil, com foco no eixo São Paulo e Rio de Janeiro
Sobre Nossa Base É a primeira rede brasileira de profissionais eleitorais progressistas espalhados pelo Brasil.