A campanha eleitoral deste ano está sendo bem diferente -quase estranha- em relação às passadas. E isso se dá por alguns motivos. Alguns mais óbvios, como a restrição do contato físico e eventos por causa da pandemia, e outros nem tanto, com destaque para o aumento da influência de organizações criminosas em territórios Brasil afora. Há também maior politização do público, as dúvidas em relação às fake news e sobre a força da direita.
Neste artigo, vou abordar algumas das mudanças nós da BaseLab, consultoria da qual sou sócio-fundador junto com o Marcos Salles, estamos observando e usando na estratégia e nossos clientes.
Cola!
Planejamento é importante, e agir também
Sempre bato na tecla da importância do planejamento de construção da figura pública, dos testes, da interação constante com o público e da necessidade de se posicionar em pautas do momento. Continuo defendendo tudo isso, mas ressalto a necessidade de tomada de decisões -o que, às vezes, significa mudanças de última hora-, com certa rapidez durante o curto período de campanha.
Saca só esse exemplo a seguir. As publicações de um dos candidatos que assessoro estavam com baixo alcance e engajamento. Analisando informações de postagens com boa performance, notamos que todas tinham um fator em comum: fotos do rosto do político. Com isso, tomamos a decisão de incluir o rosto do nosso cliente em absolutamente TODOS os materiais de campanha. Sim, já observamos níveis de interação muito maiores pois no Instagram, principalmente, o que se consome é a imagem. E não, esta não é uma dica que vale para todos os candidatos.
Foco no digital
Essa já era a tendência das campanhas eleitorais, no Brasil e no mundo, mas digamos a pandemia e o isolamento social forçaram equipes a valorizar ainda mais as estratégias de internet. Acontece que o Facebook em 2020 não é igual ao Facebook em 2018 e muito menos ao 2016. Os algoritmos e dinâmicas sociais mudam e é importante estar por dentro destas novidades. Na campanha deste ano, grupos do Facebook e também do WhatsApp estão sendo fundamentais para prospectar eleitores. Em termos políticos, o Instagram não era tão forte em 2018 e hoje em dia está sendo essencial, principalmente nas funções Stories e Reels. Quanto mais originais, sinceros e humanizados forem, melhor.
Conjuntura pró-mulheres, negros e LGBTQIA+
Na BaseLab, trabalhamos com campanhas progressistas e até atuamos de forma pró-bono para algumas candidaturas de pessoas que se enquadram em grupos socialmente minorizados porque realmente queremos agir e transformar a política brasileira. Queremos casas legislativas e governos chefiados por mulheres, negros, suburbanos. Enfim, gente do povo mesmo (aliás, escrevi este artigo sobre a campanha da Thais Ferreira do PSOL-Rio). Por tudo que vem acontecendo na sociedade, vemos uma oportunidade de eleição de mais candidatas mulheres, negros, gays, lésbicas, trans e periféricos. Isso é muito animador! Sabendo usar bem essas pautas há uma proximidade muito interessante do público. Reitero ser necessário planejamento e testes -muitos testes- para encontrar a melhor forma de alcançar o eleitorado.
Áreas comandadas pelo tráfico e milícia
Infelizmente, isso é muito comum no Brasil. E minha percepção é que as restrições impostas por estes grupos criminosos aumentam de um pleito para outro. Não foram poucas as vezes que, neste ano, ouvimos os moradores avisarem que na área que estávamos panfletando tinha um “dono”. Nada que configure ameaça, mas é, no mínimo, cerceamento das nossas liberdades e um grande risco para a democracia. Neste sentido, o digital é o caminho para contornar as limitações físicas impostas por grupos fora da lei.
Fim das coligações
Aprovada pelo Congresso na reforma de 2017, a nova regra eleitoral tem seus pontos negativos e positivos. Por lado acaba com as artimanhas dos famosos “puxadores de voto”, mas por outro pode prejudicar candidatos de partidos menores, inclusive os que são alinhados à esquerda. Este detalhe deve mudar e muito o quadro eleitoral da maioria das cidades brasileiras.
Menor contingente de eleitores
É esperado um índice mais alto de abstenção em relação aos anos anteriores, sobretudo, por causa da pandemia. Fazer uma campanha que mexa com as emoções e mostre alternativas contra tudo isso que está aí é desafiador, mas também uma grande oportunidade de se conquistar votos de pessoas alinhadas aos ideais e bandeiras de cada candidato. A abstenção impacta particularmente o campo progressista, que mais alinhado com a ciência está cumprindo as orientações sanitárias e, de certa forma, evitando sair de casa.
Vamo que vamo, pessoal! Os desafios são grandes neste momento, mas a sociedade está almejando uma transformação para melhor -já tivemos experiências de transformação para pior nos últimos anos. Temos as próximas três semanas para condensar esses desejos, sonhos e expectativas para transformá-los em votos.