Por Débora Sadde
Se voto não fosse poder, não teria sido negado às mulheres, negros e pobres ao longo da nossa história. Pense em quantas pessoas lutaram por esse direito. No dia 3 de novembro, comemoramos a instituição do direito ao voto das mulheres no Brasil. Nesta data, em 1930, foi oficializada a instituição do voto feminino no país, porém apenas em 1932, com o Código Eleitoral Brasileiro, foi finalizado esse processo.
Ainda assim, havia muitas restrições, apenas mulheres casadas e com a autorização do marido, solteiras com renda própria ou viúvas foram autorizadas a votar, o que restringia, e muito, a participação. Só em 1934, com a consolidação desse direito na nova Constituição, o voto se tornou amplo e irrestrito para todas as mulheres brasileiras.
Nomes como Bertha Lutz, Maria Lacerda de Moura, Leolinda Daltro, Nísia Floresta, entre outros, foram fundamentais para a conquista do voto feminino após muitos anos de lutas e debates. Agora, estamos a poucos dias de honrar a luta das que vieram antes de nós.
Hoje, as mulheres representam 52% do eleitorado nacional, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, porém ainda ocupamos, em 2020, menos de 16% dos cargos políticos eletivos no Brasil. Não temos representantes suficientes para tomar decisões que nos interessam com qualidade de debate e com a urgência que a sociedade precisa.
Sabemos que homens e mulheres são biologicamente diferentes e, há milênios, têm sido socializados de formas também muito diferentes. Por isso, um homem é incapaz de tomar uma decisão política por uma mulher, já que sempre vai partir de uma perspectiva dele do que é preciso ser feito para nós. Não adianta querermos ser ouvidas e ter políticas públicas efetivas voltadas para nós, se as pessoas que fazem essas políticas públicas são homens.
Quem vai mudar a lei que determina 4 meses de licença maternidade e 5 dias de licença paternidade, fazendo com que o mercado escolha empregar mais homens e institucionalizando que os cuidados com os filhos são obrigação da mulher? Isso faz com que, por exemplo, as creches e a primeira infância se tornem pautas de interesse predominantemente de mulheres, e não da família.
Questões que nos atravessam, como estupro, violência doméstica, violência obstétrica, aborto, pobreza menstrual, assédio moral, diferença salarial, escolha de profissionais baseada no sexo, entre outras, precisam ser debatidas amplamente por nós. E não apenas por 16% de mulheres, que são em sua maioria brancas e de classes mais favorecidas. Além de representatividade, precisamos também de diversidade entre nós.
Se queremos um país diferente, precisamos votar diferente. Somos a maioria e podemos promover a mudança. Vote em mulheres nessa eleição. Existem vários sites e redes sociais que podem ajudar a encontrar uma mulher que te represente.
Saiba que existem milhões de mulheres sofrendo e morrendo porque continuamos tendo as políticas públicas – e, por consequência, as nossas vidas – decididas apenas por homens e a partir de uma perspectiva do que esses homens que estão no poder entendem ser o melhor pra eles. Nós precisamos fazer o que nós acreditamos ser o melhor pra nós.
Votar não é um fardo, é uma manifestação de poder. Não abra mão desse direito. Vote consciente, vote em mulheres!
Débora Sadde é advogada e faz parte do Nossa Base, um projeto BaseLab para capacitação de profissionais que atuam em campanhas eleitorais. Ela está disponível para trabalhar em campanhas no Rio de Janeiro, Niterói e Região Sul Fluminense.
Sobre Nossa Base
É a primeira rede brasileira de profissionais eleitorais progressistas espalhados pelo Brasil.