Bem, meus amigos. Os últimos dias foram muito corridos e intensos. Estou descansando após ajudar a eleger alguns candidatos, incluindo um prefeito, junto à equipe da BaseLab, mas achei um tempo aqui para fazer uma análise preliminar dos resultados da votação.
Colem aí que depois falo, orgulhosamente, sobre as campanhas vitoriosas em outro artigo. Agora, vou falar sobre sobre alguns aspectos das eleições de 2020. Gostaria da percepção de vocês também sobre os tópicos levantados, bora!?
Antes de tudo queria dizer aqui: eu avisei rs. No texto que publiquei aqui no LinkedIn no dia 27 de outubro, antecipei três tendências que têm sido repetidas por muitos analistas depois do resultado das eleições: o aumento da visibilidade e votos em mulheres, negros e população LGBTQIA+, com grande destaque para as pessoas trans. Ainda que muito dissipado e ainda tímida, o movimento progressista focado em identidades confirmou seu amadurecimento. A segunda tendência foi nossa preocupação nos territórios ocupados por milícias e pelo tráfico, onde imperou a boca de urna e a compra de votos, tendência que creio ainda ter sido intensificada pela crise econômica que veio com a pandemia. Já nosso terceiro ponto foi o aumento da abstenção, que impactou majoritariamente candidaturas de centro e levou o país a um recorde de abstenção na votação de 2020.
Aumento de candidaturas e representantes de grupos minorizados
Tudo indicava que era um bom momento para grupos historicamente minorizados, como mulheres, pessoas pretas e integrantes da comunidade LGBTQIA+. Os dados comprovam que houve, de fato, uma pequena melhoria em relação a porcentagem de indivíduos diversos. É preciso, no entanto, ver a distribuição regional cargos, já que há uma tendência para concentração das “pautas identitárias”, que prefiro chamar de “civilizatórias”, em grandes centros urbanos.
De qualquer forma, é extremamente feliz e gratificante ver a diversidade tão defendida nas mídias sociais consolidada nas urnas. Fica um grande desafio ao campo de consolidação desses votos, pois percebi que muitas candidaturas femininas, por exemplo, dissiparam votos dentro de um mesmo partido. E isso terminou favorecendo homens. Um caminho interessante aqui talvez seja investir mais em prévias dentro dos movimentos, para apoiar candidaturas estratégicas, como fez o movimento indígena para eleger Joênia Wapichana deputada federal em 2018.
Enfraquecimento das esquerdas
Apesar de Guilherme Boulos (Psol), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Marília Arraes (PT) estarem no segundo turno de suas respectivas cidades, as esquerdas tradicionais perderam institucionalmente tanto no executivo quanto no legislativo. Partidos como DEM, PP e PSD tiveram aumento expressivo de eleitos. Por isso mesmo, precisamos olhar com mais carinho para o progressismo no interior do Brasil, que vai muito, mas muito, além das discussões da capital.
O caminho do progressismo, inclusive aquele que precisamos para derrotar setores reacionários hoje no poder, não passa somente aos partidos tradicionais de esquerda. Cito o exemplo de duas campanhas da BaseLab e defendem bandeiras como inovação, direitos sociais e direito das mulheres no lugares distantes do eixo Rio-SP: a de Andreia Rezende, a segunda vereadora mais votada de Anápolis (GO) pelo Solidariedade, e Amom Lins, eleito vereador de Manaus (AM) pelo Podemos com apenas 19 anos. Nesse sentido é importante olharmos além dos partidos institucionais se queremos avançar com maturidade no campo progressista.
Bolsonaro sai desgastado com aliados
Quase todo mundo que o presidente da República apoiou, perdeu. Wal do Açaí, Celso Russomanno e até mesmo Carlos Bolsonaro, que perdeu expressividade, são exemplos de como a influência de Bolsonaro no eleitorado não se consolidou. Tal constatação, porém, pouco diz sobre 2022. Isso porque as eleições municipais são muito específicas por tratarem de problemas de ordem prática e menos ideológicas. Diferenciar as discussões de âmbito municipal com nacional é necessário para começar os planejamentos para a próxima disputa eleitoral.
Ausência de eleitores
O índice de abstenção na eleição de 2020 foi de 25%, o mais alto em eleições municipais desde 1996. Lógico que a pandemia ajuda a explicar tal desânimo, mas é importante acompanhar perfil de eleitores que deixam para lá o direito do voto e fazer um exercício de reflexão, pensando para onde teriam ido estes votos e que cenário eles teriam construído.
Digital enriquece campanhas, mas não substitui pé na rua
Meme é bom e todo mundo gosta. As mídias sociais, o contato direto via WhatsApp e o impulsionamento de conteúdo fazem toda diferença na construção e no sucesso de uma campanha. Sozinhas, no entanto, estas ferramentas não resolvem uma candidatura. Não existe campanha política de sucesso feita apenas por trás de um computador. Duas das mulheres negras eleitas no Rio de Janeiro, Tainá de Paula (PT) e Thais Ferreira (Psol), mandam muito bem nos memes, nos textões e na conversa online com a militância. As duas, entretanto, foram para as ruas todos os dias conversar com a população, entender os anseios dos eleitores e apostaram na militância territorial para dialogar com setores estratégicos. Deu muito certo para elas e a lógica é vista também nas campanhas de segundo turno, em que a militância abraçou caminhadas, panfletagens e ações do tipo.
A democracia segue viva
A galera da anti-política saiu menor da eleição, inclusive com discursos ridicularizados. Viva a democracia!
E o que acontece daqui para frente
Há um árduo trabalho para recuperar o campo progressista e buscar melhorias que tanto precisamos no Brasil. Na minha visão, tal processo continua passando por boas narrativas, por uma comunicação digital contemporânea e alinhada ao que os jovens estão fazendo – Boulos e Erundina estão aí comprovando eficácia da movimentação. Não vai ser fácil, mas existem caminhos e eles devem nos ficar mais claros nos próximos dias, seguirei investigando por aqui. Até mais!