E 2020 está nos minutos finais! Foi um ano cheio de desafios, estresses e problemas e que, de certa forma, conseguimos vencer. Mas qual a perspectiva para o próximo ano? Reúno aqui algumas tendências, baseadas em evidências e movimentos perceptíveis, do que deve ganhar força nos próximos 12 meses.
Colem!
1. Políticas públicas voltadas aos grupos minorizados, ao menos nas cidades
A eleição de vereadoras foi ligeiramente maior ao registrado em 2016, mas, neste ano, tivemos um belo contingente de pessoas negras e transexuais eleitas. Um perfil mais diverso nas casas legislativas tende a resultar em políticas inclusivas e assuntos que antes não tiveram a devida visibilidade, como o combate ao racismo. Se por um lado isso é necessário, pode ter certeza que os velhos donos do poder ficarão muito incomodados com o brilho de novos protagonistas.
2. Necessidade de ampliar rede de proteção social e serviços públicos, inclusive municipais
A pandemia aprofundou nossa crise econômica e desigualdades. Muita gente ficou sem emprego, com um salário reduzido ou vivendo apenas de auxílio emergencial. Com isso, a demanda por postos de saúde, creches e escolas públicas aumentou nos últimos meses. Para evitar colapso, prefeituras competentes devem se organizar e ver como dar conta do recado. Meu palpite é que isso tende a acontecer com um número expressivo de municípios, já deficitários nos dias atuais, e que haverá pressão para o governo federal liberar mais recursos para saúde, educação e na assistência social.
3. Mais PPPs
As prefeituras estão deficitárias e o endividamento deve se agravar, uma vez que a economia não está reagindo. Dada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e o Teto Fiscal, não dá para esperar grandes investimentos do setor público na maioria dos entes públicos, embora, como eu disse, isso será necessário – a população também está bem dependente dessas ações. Há uma pressão de grupos liberais por vouchers, Parcerias Público-privadas e privatizações que podem encontrar em um cenário de crise a grande oportunidades de serem consolidadas. Esse processo deve enfrentar bastante resistência ainda na sociedade civil organizada e na esquerda institucional, uma vez que empresas públicas foram importantes peças do desenvolvimento e que essa é uma pauta cara à esquerda brasileira.
4. Teremos nova taxa de aprovação do governo
O fim da ajuda financeira do governo aos brasileiros sem renda tende a mostrar uma nova aprovação de Jair Bolsonaro, que parece imune (ou ao menos pouco impactado) à crise econômica e sanitária que vivemos. As parcelas emergenciais de R$ 600 para quem sempre viveu em situação emergencial ajudam a explicar sua boa reputação mesmo com tanta confusão e desgoverno. Não se sabe, porém, se haverá um novo programa de transferência de renda e como isso pode impactar a imagem do atual presidente. Tal indicador é muito importante para balizar o que deve acontecer em 2022.
5. O povo nas ruas
Recomendo que os vereadores e prefeitos fiquem de olho nas insatisfações populares. Com o abrandamento da pandemia e o possível (e esperado) sucesso das vacinas contra o coronavírus ao longo de 2021, pode ser que manifestações em muitos países latino-americanos, como Argentina e Peru, também ocorram por aqui. O racismo, a inabilidade do governo federal com a nota do Enem e a falta de esperança do brasileiro, por exemplo, aliados a uma crise econômica e aos absurdos frequentes proferidos pelo presidente e seus ministros podem fazer com que o povo saia de casa cobrar por seus direitos. Isso, porém, não é certo. Grupos de risco serão vacinados primeiro e jovens, a força motriz, das manifestações, estarão lá no fim da fila da imunização, mas eles podem também se sentir mais confortáveis uma vez que a população de risco estiver vacinada.
6. Organizar a base e abaixar o topete
Este ponto é mais uma necessidade do que propriamente uma tendência em si, mas cito porque vejo o tema sendo muito debatido no campo progressista. O discurso acachapante de Mano Brown na campanha de Haddad em 2018 (“Deixou de entender o povão, já era. Se somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo, tem de entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar saber”) pode ser considerado um marco neste sentido. Quando se fala em “organizar a base” isso significa um trabalho profissional, estratégico, de atendimento e acolhimento da população. Os sindicatos e organizações que historicamente tiveram este papel estão cada dia mais enfraquecidos. Disputar a narrativa com a direita, organizadíssima a nível mundial, e construir rede são coisas para ontem.
7. Cenário externo tenso
Mesmo com Biden no comando dos EUA, a relação com a China não deve ser das melhores. Sim, igual ao que foi com Trump. E isso nem sou eu que estou falando, é o The Economist. Neste sentido, o Brasil fica sem para onde correr, uma vez que Bolsonaro ameaçou o presidente americano eleito (risos de desespero) e tem horror da China comunista. Neste tema, aliás, fica aí a falta de sinergia entre Brasil e Argentina, que sempre foram fortes aliados e estão distantanciados. Curiosamente, China, Argentina e EUA são os maiores parceiros comerciais do Brasil.
8. Cuidados com o meio ambiente
As pressões por cuidados com o planeta devem seguir. A jovem Greta Thunberg continua influente ao mesmo tempo que a Amazônia e o Pantanal seguem, literalmente, pegando fogo. Pautas mais locais como gestão hídrica podem gerar pressões mais pontuais, principalmente se ocorrerem em grandes centros urbanos.
9. Comunicação em vídeo
No relatório de tendências para 2021, a Kantar afirma que o “formato de vídeo online será o grande vencedor, e haverá crescimento contínuo nos ambientes de maior alcance, como o YouTube”. Isso vale para as organizações que acabam pautando em grande parte não só o quê, mas como acompanhamos materiais pela internet. Então, minha orientação aqui é incluir produção de vídeo no planejamento de comunicação. Na campanha de 2020 já vimos o quanto este formato tem força. Falando em comunicação, aliás, o Hootsuite tem um bom post sobre os tamanhos oficiais de imagens em todas as plataformas.
Enfim, meus caros. É isso aí.
Medo. Ansiedade e incerteza econômica são algumas das observações feitas pela WGSN sobre o ano de 2020. Diante de tanto caos, minha ideia aqui é tentarmos sermos propositivos diante aos problemas que enfrentamos ao longo do ano e que ainda vão ter ressonância em 2021. Sem querer trazer nenhuma positividade tóxica (confesso que estou amando o termo), precisamos nos unir, buscar soluções coletivas, reconhecer os reais inimigos, trazer inovação, renovar os quadros partidários progressistas, trazer soluções multidisciplinares e muita resistência a tudo que possa gerar ainda mais desigualdade no Brasil.
Boas festas!