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Baleia Rossi (MDB) e Arthur Lira (PP) vão se enfrentar na disputa à presidência da Câmara dos deputados, marcada para 1º de fevereiro. O primeiro significa continuidade do trabalho de Rodrigo Maia (DEM), aliado aos acordos com a esquerda institucional, enquanto o outro recebe apoio do bolsonarismo e do chamado centrão.
Embora o fisiologismo mereça algumas críticas, aqui vou me ater ao que andam chamando de realpolitik e mostrar como o pragmatismo, neste momento, pode nos salvar de um Brasil ainda pior.
A eleição de Baleia é sim uma boa notícia para o campo progressista. Isso porque Bolsonaro e seus aliados são reacionários sonhando em viver um passado no qual onde os grupos diversos que compõem a sociedade são esmagados — ou, “as minorias têm que se curvar para as maiorias”, nas próprias palavras dele. Ter um genuíno representante da família Bolsonaro no comando da Câmara significa que eles podem controlar os assuntos que serão postos em votação e que vão repercutir em nossas vidas. Inclusive um impeachment.
A presidência da Câmara é um cargo muito poderoso na nossa República. Ajuda a Estados e municípios, temas ligados a Educação e, sobretudo, Saúde serão urgentes nos próximos anos. São, também, curiosamente, tudo que Bolsonaro quer evitar, dando foco a devaneios sobre o combate ao comunismo, facilidade no porte e posse de armas e outros assuntos que estão longe de serem nossas prioridades.
Quer exemplos práticos da importância da função? As pressões de Maia, juntamente com ações do governador de São Paulo João Doria, fizeram com o que o governo federal se preocupasse (ainda que tardiamente) com a vacinação contra a Covid-19, já anunciada. Nas discussões do auxílio emergencial, as declarações de Maia foram essenciais para que a ajuda financeira não fosse de R$ 200, como proposto inicialmente por Paulo Guedes, mas sim de R$ 600.
Sempre foi necessário, mas nos próximos meses vamos ter que ampliar rede de proteção social e serviços públicos, inclusive municipais.
As posições do PT e do Psol
A notícia de que o PT (partido com maior bancada na Câmara) está apoiando Baleia Rossi gerou críticas no sentido de que a sigla está se atrelando ao MDB e a grupos que não têm perfil de esquerda, muitos dos quais, inclusive, votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Ao meu ver, o que o PT está fazendo é ser estratégico e buscar vitória ao invés de bater o pé, marcar posição e… perder. Deixando, assim, assuntos importantes e caros ao campo progressista longe de quaisquer discussões formais, comissões e decisões da Casa. Exatamente assim como aconteceu com a eleição de Eduardo Cunha, cujo fim da história conhecemos bem.
Partidos de esquerda que compõe o bloco pró-Baleia estão fazendo uma política adulta que busca avanços programáticos — a união inclui PT, PSB, PDT, PV, PCdoB, Rede, PSDB, Cidadania, MDB, PSL e DEM. Fazer acordos com políticos de agenda liberal pode parecer estranho, mas a outra opção é dar vitória para descontrolados negacionistas e anti-ciência. O campo institucional progressista em sua maior parte sabe disso e, conforme temos visto, negociaram pautas mínimas com o político do MDB, como defesa de programas sociais, apoio ao SUS, renda aos trabalhadores em período de crise e a combatividade ao clã Bolsonaro.
É necessário que as lideranças do campo expliquem melhor ao eleitorado e à militância a escolha, mas entendo que essa é a melhor decisão para o difícil momento histórico em que vivemos.
Sonhar com uma política verdadeiramente progressista e de esquerda é muito bom. Se unir contra o autoritarismo de Bolsonaro formando uma frente ampla, no entanto, é urgente.
Política é também sobre acordos. E, sinceramente, espero que todos do campo progressista, incluindo aí os queridos do Psol, apoiem o bloco de Baleia Rossi. Temos um inimigo muito claro a ser derrotado, que é o governo criminoso de Bolsonaro.