Publicado originalmente no LinkedIn
Você já deve ter esbarrado em uma discussão sobre as compras do governo sobre o gasto de R$ 15 milhões em leite condensado, entre outros doces (chicletes, geleia de mocotó e afins) e em memes sobre o tema.
De um lado, há os que defendem que as compras são normais e que o campo progressista estaria incorrendo em fake news ao abordar o assunto de maneira simplória e sem nenhum aprofundamento. De outro, estão as pessoas (muitas delas, lideranças políticas) surfando nos memes, piadinhas e indignação.
Polêmica? Sim, mas eu estou ao lado dos memes.
E explico aqui as razões. Cola aí!
A discussão no campo da opinião pública não funciona de maneira técnica. Vale mais a força do argumento e seu momento – e o momento, digamos, não é dos melhores para Jair Bolsonaro.
Atualmente há uma alta inflação sobre os alimentos, o que impacta diretamente no bolso dos mais pobres. E compras governamentais são sempre um tópico de vulnerabilidade, inclusive na direita defensora da redução do Estado.
Jogar luz sobre o processo de compras públicas tem nos aberto uma excelente oportunidade de conversar sobre o tema para milhões de pessoas que nunca se interessaram por isso, mas estão de boca aberta com os valores publicizados e também com o fato do Portal da Transparência ter saído do ar.
Parece que os memes estão desempenhando uma função didática sobre o gasto público. E, convenhamos, isso é incrível.
Mostrar um governo que gasta muito e mal é uma importante mensagem que a oposição está conseguindo divulgar neste momento. A percepção é que há algo muito errado acontecendo. Pode ser que não seja a realidade, mas o desgaste para Bolsonaro já está na boca do povo.
Os memes ajudam também a enfraquecer a imagem do exército, hoje base fundamental do governo e fiador de suas ações. O mito, com o perdão do trocadilho, de que o exército é bom gestor vai caindo por terra. Lembrando que isso ocorre no momento de grande pressão sobre Pazuello, que é um general, do comando do Ministério da Saúde, sendo ironizado pelo fato de ser “especialista em logística”.
Cada meme de um soldado pintando calçada com leite condensado ajuda a minar a boa avaliação de Bolsonaro e seus fiadores.
Sim, os memes estouraram a bolha da esquerda e dos progressistas. Hoje estão em grupos de família e sendo vistos por “tias e tios do zap”, tão acostumados a replicarem fake news pró-Bolsonaro.
Em resumo: a batalha do leite condensado ganha corpo com a crescente insatisfação do governo. As ações da oposição, claro, não podem ficar restritas às brincadeiras, mas é interessante notar que os memes são uma faceta importante dos ataques ao governo pois estão alinhados com pautas reais: desigualdade, inflação e pobreza.