Por Gabriela Farina
Principalmente desde novembro do ano passado (2020), quando o democrata Joe Biden derrotou o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, muitos brasileiros têm se perguntado se seria possível derrotar o conservadorismo brasileiro nas eleições de 2022.
Muitos grupos progressistas e anti-bolsonaristas têm quebrado a cabeça se perguntando qual seria o nosso Biden, capaz de tirar de Jair Bolsonaro sua reeleição. No entanto, acredito que para que nós possamos definir um nome capaz de vencer o bolsonarismo, é preciso vencer internamente algumas resistências que virão naturalmente com o processo.
Primeiramente, é importante salientar que a reeleição têm feito parte da história da democracia brasileira desde que foi incluída na Constituição durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Desde então, passaram pela Presidência da República três candidatos à reeleição, todos bem sucedidos. Olhando dessa forma, parece pouco e, de fato, é. Nossa democracia é muito nova.
Contudo, nós precisamos lembrar que o presidente da República no Brasil tem muito poder perante os outros Poderes de Estado, se compararmos com o presidencialismo de outros países. A consequência direta disso para a população é de que as políticas governamentais costumam ser atreladas à imagem presidencial. Isso se mostrou bem evidente com o aumento da popularidade de Bolsonaro enquanto durou o auxílio emergencial de R$ 600, apesar de o presidente ter lutado contra esse valor durante a formulação do programa. Em resumo, um governo com uma ou outra política de grande porte bem sucedida tem condições de ser reeleito.
Essa é uma das preocupações que deverão estar presentes na articulação de uma frente ampla para 2022. Além disso, poderá ser necessário aos brasileiros interessados na construção de uma alternativa a Bolsonaro ter uma mensagem e narrativa consolidadas para bater de frente com o presidente. Nos EUA, o fato de que era preciso tirar Donald Trump do poder funcionou. Será que essa mensagem funciona aqui?
Finalmente, a última questão que permanece é: uma frente ampla contra Bolsonaro aceitará protagonistas que não seja progressistas? Se compararmos de novo com os EUA, durante as eleições, alguns nomes importantes do Partido Republicano se manifestaram favoravelmente à candidatura de Biden, contrários, portanto, à vitória de Trump. Essas manifestações parecem ter sido bem aceitas pelos democratas, mas e aqui? O PT estará disposto a fazer campanha com o MBL? Isso seria bem aceito pelos eleitores de centro?
Claramente, esse texto trouxe mais questões do que respostas. Entretanto, esse momento da história da nossa democracia poderá mudar os rumos da política brasileira. Por isso mesmo é preciso pensar em todos os movimentos políticos com cautela, refletindo e questionando toda e qualquer decisão.
É preciso lembrar que Bolsonaro e seus apoiadores são e estão muito bem articulados e já começaram a sentir que os ventos estão cada vez mais desfavoráveis para seu lado. Eles vão agir. E você?
Cientista política formada pela Universidade de Brasília (UnB) com experiência de atuação no governo federal e na área de relações governamentais. Tem interesse e disponibilidade de atuação na área do Distrito Federal (DF).
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É a primeira rede brasileira de profissionais eleitorais progressistas espalhados pelo Brasil.