Por Henrique Oliveira Rachid Cançado
A última década na democracia brasileira foi bem agitada, desde as manifestações de junho de 2013, seguidas pela vitória apertada de Dilma em 2014, as manifestações da direita em 2015, o impeachment da Dilma (foi golpe!), o governo de transição de Temer, a operação Lava-Jato, a prisão de Lula, a facada em Bolsonaro, a vitória de Jair em 18, e seu governo conturbado; e por fim a pandemia. Um resumo de acontecimentos que de maneira nenhuma consegue capturar toda a incerteza institucional e democrática no nosso país neste momento.
Além disso tudo, o sistema político e eleitoral brasileiro, sofreu significativas alterações como o fim do financiamento eleitoral de campanha, o encurtamento do período eleitoral, a promoção das plataformas de recursos (vaquinhas eleitorais), as cotas femininas, a criação do FEFC; o crescimento exponencial das redes sociais; a clausula de barreira e o fim das coligações. Foram inúmeras mudanças e acontecimentos que nos trazem a esse sentimento de insegurança com a campanha de 2022.
Bom, mas o fato é que até onde sabemos haverá disputa em 22. E pensando nisso, nós enquanto pessoas progressistas que trabalham com a política temos que nos preparar! Um emaranhado de acontecimentos que nos colocam um desafio enorme para o trabalho com campanhas e estratégias eleitorais. Por isso, sugiro partirmos de algumas premissas em campo que melhorarão nossa percepção e nos conduzirão a campanhas bem feitas no ano que vem.
A primeira premissa é muito óbvia, mas as vezes esquecemos, a incerteza é um sentimento de mão dupla na maioria das vezes, ou seja, se existe uma dúvida pairando no ar, ela existe também pra outros grupos políticos, partidos e equipes. Sendo assim, em momentos vagos, é importante estabelecer compromissos e objetivos. Firmar algumas condições e começar a trabalhar com um pouco mais de confiança. Definir pontos de partida nos conduzem a bons planejamentos. É importante saber o objetivo do grupo, da equipe, coletivo, ou candidato/a.
Temos então a segunda condição para levarmos para as eleições do ano que vem, a eleição federal para cargos legislativos é muito menos pessoal que a eleição municipal. É fato que a polarização acaba contaminando um pouco da disputa, mas ainda assim, é uma disputa em que a densidade por candidatos por metro quadrado é bem menor que nas municipais, o que permite uma série de considerações (trabalhar regiões específicas, bandeiras específicas, condensar projetos mais propositivos e menos pessoais… e por aí vai).
A última premissa básica é campanhas seguem sendo campanhas e para isso, independente dos cenários é preciso organização, estratégia e planejamento*: qual cargo disputar; qual partido escolher; quais projeções de voto; imagem e persona; como divulgar suas ideias políticas, mapear os grupos (na região da eleição) mais próximos da ideologia apresentada, lista de contatos das pessoas envolvidas (para aumentar o alcance e divulgação do projeto).
Bom, 2022, já começou! Não adianta esperar bons ventos e não construir boas navegações
*Escrevi um pouco sobre isso aqui no blog da Base em abril, confira em: https://www.baselab.cc/post/campanha-eleitoral-pouco-dinheiro.
Para aprofundar o debate, seguem algumas sugestões:
- Pensando em incertezas e sobre tudo que estamos vivendo: LIVRO – Como as democracias morrem – Steven Levitsky & Daniel Ziblatt
- Pensando em campanhas e planejamento: Indico o curso de Marketing Político do professor Alberto Carlos https://albertocarlosalmeida.com.br/cursos/ ; e o curso atual de campanhas da Base.lab, com algumas aulas e formações abertas no youtube.
Henrique Oliveira Rachid Cançado é formado em Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é mestrando em Políticas Públicas de Educação no PPGFAE/UFMG e membro do Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente), sob a orientação da professora Dalila Andrade. Membro do movimento Acredito, e e participante nos movimentos políticos da Base.lab
Instagram: https://www.instagram.com/hcancado