Por Beatriz Araujo
Há muito tempo se discute sobre possíveis estratégias para tornar cada vez menos desigual a representação política de alguns grupos particulares: mulheres e pessoas não-brancas, sobretudo indígenas ou negras. Isso porque há uma sub-representação desses grupos que reverbera em diversas esferas e isso não seria diferente na política institucional.
Diversas iniciativas foram criadas e executadas com objetivo de reduzir essa defasagem, mas não podemos jamais perder de vista que o que torna necessária a existência das mesmas é o machismo e racismo dentro dos partidos – independente de qual espectro ideológico o mesmo esteja situado, tornando-se mais contraditório quando isso é, também, uma realidade em partidos que se posicionam como progressistas e tem diversidade como bandeira.
Dito isto, gostaria de trazer à tona uma perspectiva interseccional sobre o “Peso 2”, a nova regra que chegou causando certo frisson, que inicialmente parece ser uma proposta bastante interessante, pois aumentaria a presença de pessoas destes grupos. Contudo, o desenho inadequado da regra gera subterfúgios para má fé.
A regra que coloca “peso 2” para mulheres e negros(as) para fins de distribuição dos fundos eleitoral e partidário pode gerar subterfúgios para má fé.
Dito isto, gostaria de trazer à tona uma perspectiva interseccional sobre o “Peso 2”, a nova regra que chegou causando certo frisson, que inicialmente parece ser uma proposta bastante interessante, pois aumentaria a presença de pessoas destes grupos. Contudo, o desenho inadequado da regra gera subterfúgios para má fé.
Como assim?
Alguns possíveis cenários mais imediatos que podem acontecer com o “peso 2” são os partidos darem preferência para candidatos que já trazem mais votos, reforçando outros problemas como o personalismo e a sobreposição de candidaturas de mulheres brancas em detrimento das candidaturas de mulheres não brancas.
Ainda neste mesmo tópico, mulheres indígenas e negras deveriam receber um apoio maior, considerando as camadas de violências e dificuldades que elas enfrentam quando comparadas às das mulheres brancas.
Outro aspecto bastante importante a ser ressaltado dado aos avanços significativos dos direitos e candidaturas LGBTQIA+, a categoria “mulheres”, pela regra, é definida a partir do sexo biológico, o que mostra um retrocesso transfóbico e intersexofóbico tendo em vista o aumento considerável de mulheres transexuais e travestis disputando eleições e ocupando cadeiras, apesar de todas as dificuldades encontradas no caminho..
Portanto, torna-se de suma importância não perder de vista estes detalhes que no final do cálculo fazem diferença, pois uma das consequências imediatas e profundas da sub-representação é a ausência de políticas públicas e defesa dos interesses que podem impactar diretamente a vida destas pessoas, por exemplo, o marco temporal e outras tentativas de “flexibilização” dos poucos direitos indígenas.
Beatriz Araújo é cientista política e atualmente atua como Gerente voluntária do Projeto TODXS ESCOLAS na ONG TODXS. Acompanhe o trabalho de Beatriz pelo LinkedIn: