Por Paulo Loiola
Pesquisa recente da IPEC aponta que 44% dos brasileiros têm medo da implantação do comunismo no Brasil. Uma reação bastante comum no campo é desqualificar o entendimento que se tem do comunismo por parte da população, mas essa reação de superioridade nos ajuda? Acredito que não. A ideologia comunista baseia boa parte das ideias da esquerda e o ataque a ela é um ataque ao campo como um todo, como a direita já entendeu muito bem.
Primeiro, é necessário entender que a língua é viva e está em disputa o tempo todo, ainda que seja um consenso acadêmico. Em segundo lugar, é importante entender a influência atual da direita no discurso público, o que irei desenvolver um pouco melhor.
Aqui é necessário dizer que a direita vem fazendo um trabalho de desconstrução do termo, que sofre ataques desde sua concepção e cujos defensores já foram alvo de perseguições e torturas. Essa desconstrução surfa no crescimento das mídias digitais e na constante transformação que vivenciamos nas formas de comunicação e no mundo do trabalho, que vem desafiando radicalmente o conceito de classe trabalhadora, essencial para o entendimento do sistema comunista.
Porém, para uma parcela significativa da população, o termo nada tem a ver com os ideais de igualitarismo, propriedade comum dos meios de produção e na ausência de classes sociais propostos por Marx e Engels, mas com medos cotidianos, como inflação, poder de elites ligadas ao campo da esquerda, perda de direitos adquiridos, aumento de impostos, disputas ideológicas como as recentes a pessoas trans ou à figura de Paulo Freire ou perseguição da classe trabalhadora que se entende como empreendedora, e que vê em aplicativos digitais uma saída para geração de renda.
Além disso, a identificação do governo do PT a um projeto de esquerda e a disputa em torno do poder político brasileiro também influenciou diretamente para que o conceito fosse atacado e desconstruído, como podemos ver pela pesquisa, com certo sucesso. Os principais articuladores dessa desconstrução são coachs, igrejas, militares e ideólogos da direita, que disputam a narrativa e o poder no país.
Essa desconstrução ocorre por um entendimento por parte de ideólogos da direita do conceito de guerra cultural, para organizar o próprio campo, é necessário o desenvolvimento de um inimigo comum, a fim de unir a comunidade em torno de um mesmo ideal, mesmo que esse medo seja algo fora da realidade (kit gay, mamadeira de pênis, fechamento de igrejas, satanismo, etc). Destaco também o crescimento das igrejas evangélicas neopentecostais, que, com uma ideologia predominantemente individualista, participam ativamente da desconstrução do termo.
Para onde caminhar então?
Entendo que alguns pontos são possíveis e necessários, sem a menor intenção de esgotar a discussão:
1) A disputa do termo e seu resgate originário, ao meu ver precisam extrapolar o ambiente acadêmico;
2) utilizar massivamente mídias sociais para expor as contradições do sistema capitalista (pobreza, desigualdade, crise ambiental, etc), inclusive utilizando linguagens mais acessíveis como memes;
3) Buscar maneiras alternativas de comunicar as ideias e implantar;
4) Enfatizar as ideias e o objetivo de um sistema mais acolhedor e justo;
5) Abordar a ideologia a partir de problemas reais das pessoas;
6) Enfatizar que é possível construir um sistema político mais justo dentro dos preceitos democráticos, pois há grande associação das ideologias de esquerda a regimes anti-democráticos.
Paulo Loiola é estrategista político, Mestre em Gestão Pública pela FGV/EBAPE e sócio da Baselab.